quinta-feira, 31 de março de 2011

O RODÍZIO DE EMPRESAS PODE GERAR UMA MAIOR INDEPENDÊNCIA?

De acordo com a Deliberação nº 549 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), de 10 de Setembro de 2008, se torna obrigatório o rodízio de firmas de auditoria a cada cinco anos, a partir do ano de 2012.
O rodízio de empresas de auditoria é um tema muito polêmico em todo o mundo, existem diversos defensores e opositores a tal prática, mais é certo que ele afeta toda uma relação comercial e profissional dos auditores para com as empresas auditadas.
            Oliveira; Santos (2007) apontam que países como Áustria, Itália e Índia adotam a obrigatoriedade do rodízio das firmas de Auditoria para as empresas que possuem ações negociadas na bolsa de valores, porém existem países que adotavam o rodízio de empresas e acabaram abandonando tal prática como é o caso da Espanha e do Canadá.
Os órgãos reguladores da auditoria vêem o rodízio como uma forma de assegurar maior independência e ética aos auditores.
De acordo com a resolução 1.267/09 do CFC, para que se caracterize a independência por parte do trabalho do auditor, é necessário que esta seja levada ao pé da letra, ou seja, os interesses do profissional não podem em nenhum momento se tornar comum aos interesses da entidade, a ponto de haver falta de integridade e objetividade na realização de seu trabalho.
A perda da independência ocorre a partir do momento que essa “distância” entre auditor e entidade auditada deixa de existir, seja por interesses financeiros diretos, quando este parte diretamente da pessoa que está realizando o trabalho, ou com interesses financeiros indiretos, quando o interesse parte de alguma pessoa ligada ao profissional de auditoria para com a entidade auditada.
Situações que levaram a perda de independência por parte do auditor já puderam ser observadas em diversos escândalos contábeis, entre eles o da famosa companhia de energia Enron e do banco norte americano Lehman Brothers.
Oliveira; Santos 2007 em seu estudo sobre o rodízio das firmas de auditoria no Brasil relatam que esta prática tem “[...] como objetivo a preservação da independência do auditor e a diminuição dos erros contábeis e fraudes relacionados ao processo de auditoria das demonstrações contábeis [...]”
Outros autores favoráveis a rotatividade obrigatória de firmas de auditoria colocam que longos mandatos aumentam a intimidade entre profissional de auditoria e cliente, reduzindo assim a independência. DEFOND E FRANCIS, 2005; GEIRGER e RAGHUNANDAN, 2002; NAGY, 2005 citados por OLIVEIRA e SANTOS (2007)
Os defensores do rodízio de forma geral alegam que uma entidade tendo por longos períodos suas demonstrações auditadas pela mesma empresa, pode acarretar em relações estreitas, afetando a sua independência através da diminuição da crítica do auditor em seu trabalho.
Para muitos o rodízio de empresas nada ajuda na manutenção da independência do auditor, pelo contrário aumenta os riscos de erros na auditoria.
Aqueles que se opõe ao rodízio periódico defendem que a qualidade da  auditoria não decorre apenas da independência, que teoricamente aumentaria com a troca de empresas de auditoria, mas envolve outros fatores como o  conhecimento  específico  sobre  o  cliente, diminuído quando ocorre a mudança de empresa. DEANGELO, 1981; JOHNSON, 2002 e MYERS, 2003 citados por AZEVEDO e COSTA (2008)
Segundo o artigo de Fregoni; Torres (2011) publicado no site Portal de Auditoria "O Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon) também não concorda com a rotação de firmas e fará todos os esforços possíveis nessa discussão", afirma a presidente do órgão, Ana María Elorrieta, ao ser questionada sobre o assunto. Para ela, além de não haver ganho com a troca, a mudança de auditoria expõe novos riscos, já que o auditor começa o trabalho "a partir de uma página em branco".
Na pesquisa divulgada na Revista Contabilidade & Finanças em dezembro de 2007 efetuada pelos pesquisadores Alexandre Queiroz de Oliveira e Neusa Maria Bastos Fernandes dos Santos intitulada: Rodízio de firmas de auditoria: a experiência brasileira e as conclusões do mercado, os pesquisadores chegaram a conclusão de que o rodízio não interfere na questão da independência do auditor, sendo que a auditoria não está livre de que ajam erros, fraudes ou substituições nas empresas de auditoria, até mesmo com a adoção dessa prática.
Apesar de termos diversas pesquisas que retratam o impacto trazido pelo rodízio das empresas de auditoria, e diversas delas mostrarem que não há impactos significativos, os argumentos trazidos pelos que são favoráveis são extremamente consistentes e nos levam a pensar sobre o assunto. Afinal, o rodízio das empresas de auditoria irá ajudar na manutenção da independência dos auditores? Trará ao mercado mais confiança no trabalho dos auditores? Como teremos certeza de que todos os pontos tratados pela resolução 1.267/09 estão realmente sendo atendidos?

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, Filipe. COSTA, Fabio Moraes da. Efeito da troca de firma de auditoria no gerenciamento de resultado das companhias abertas brasileiras. In: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS. 2., 2008, Salvador (BA) Anais... Salvador: ANPCONT, 2008.     

COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Deliberação CVM nº 549/08. Rotatividade dos Auditores Independentes. 10 de set. de 2008. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br/> Acesso em: 26 mar. 2011

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº 1.267/09. Aprova a NBC PA 02 – Independência. Brasília-DF, 10 de dez. de 2009. Disponível em: <http://www.cfc.org.br>. Acesso em: 26 mar. 2011.

MARTINEZ, Antônio Lopo; REIS, Graciela Mendes Ribeiro. Rodízio de auditores e o gerenciamento de resultados. In: CONGRESSO USP DE CONTROLADORIA E CONTABILIDADE, 10., 2010, São Paulo (SP). Anais... São Paulo: USP, 2010.

OLIVEIRA, Alexandre Queiroz de. SANTOS, Neusa Maria Bastos Fernandes dos. Rodízio de firmas de auditoria: a experiência brasileira e as conclusões do mercado. Revista Contabilidade e Finanças. São Paulo. v. 18. no. 45. set/dez 2007.

TORRES, Fernando. FREGONI, Silvia. Portal de Auditoria. CVM fecha cerco aos auditores. Disponível em: <http://www.portaldeauditoria.com.br/ler_noticia.asp?id=48&a=CVM%20fecha%cerco%20aos%20auditores> Acesso em: 26 mar. 2011.

Autoras da postagem: Graselene Lindner e Lilian Frainer

12 comentários:

  1. O rodízio das empresas é muito importante para garantir a independencia dos auditores, que ao passar dos anos poderão deixar de observar práticas adotadas pela empresa por já as conhecer.
    Isso poderá ser desfavorável e trará menos confiabilidade à auditoria.

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  2. O rodízio acaba sendo não apenas para dirimir dúvidas quando às auditorias anteriores, mas também para cessar com um vínculo que muitas vezes levam à uma perda de independência para com a auditada.

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  3. Concordo com a idéia do rodízio, por mais que as pesquisas concluíram que a independência não é afetada, acredito que o rodízio é uma forma de precaver futuros acontecimentos que podem ocasionar a perda de independência. Com o tempo por mais íntegra, objetiva e transparente, as entidades de auditoria podem criar vínculos com a entidade auditada.

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  4. Layla Beatriz Boos Martins4 de abril de 2011 às 23:40

    Também concordo que deve-se fazer rodízio de empresas de auditoria, porque com o passar dos anos é normal que não se observe determinados itens, e com isso muitas coisas podem passar despercebidas.

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  5. No meu entendimento o rodízio de empresas de auditoria é de suma importância, pois com o passar do tempo a entidade auditora pode desenvolver certo grau de dependência com a entidade auditada, assim prejudicando o seu trabalho e os resultados que são de grande valia a entidade auditada.

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  6. Esse procedimento faz com que não tenha formas de se esconder fraudes nas demonstrações contábeis das empresas. Sou totalmente a favor, para que não haja nenhuma espécie de vinculo entre a organização e as empresas que prestam serviços de auditoria.

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  7. Várias vantagens estão associadas a permanência de uma mesma auditoria na empresa, uma delas é proporcionar maior conhecimento do ambiente por parte dos auditores, ocasionando também ganhos em termos de agilidade e qualidade de suas análises.
    O rodízio pode ocasionar uma perda na qualidade de seus serviços, pois uma empresa de auditoria demora pelo menos 3 anos para conhecer os controles internos da empresa auditada.

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  8. É preciso analisar os prós e contras do rodízio de empresas de auditoria. Como a Patrícia comentou, o grande benefício de manter a mesma empresa está no fato dos auditores conhecerem bem a empresa e seus controles internos, o que torna o serviço mais ágil e confiável. Por outro lado, uma relação de longa data pode ocasionar a perda de independência da empresa de auditoria. Acredito que o rodízio é uma boa forma de evitar que isso ocorra. Além disso, uma nova auditoria pode identificar falhas, que a anterior não foi capaz de perceber, justamente pelo desconhecimento que implicará na aplicação de testes mais minuciosos.

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  9. Concordo também com o rodizio de empresas de auditoria, elas podem encontrar erros ou falhas que a mesma empresa que vem auditando não encontra pelo fato do tempo que ja esta trabalhando acabam deixando de observar certos itens, fazendo com que muitas coisas passem despercebidas, acarretando assim em erros.

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  10. É importante o acontecimento do rodízio de empresas de auditoria, isso traz benefícios a empresa que será auditada, pois um auditor que possui anos auditando aquela determinada empresa, adquiri vícios ao longo do tempo, pelo fato de conhecer a empresa, o rodízio faz com que isso não aconteça, trazendo maior confiabilidade para a auditoria também.

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  11. O rodízio de firmas de auditoria foi introduzido no Brasil por ocasião dos escândalos corporativos de instituições financeiras na emissão das demonstrações contábeis e adotado pela CVM – Comissão de valores Mobiliários às empresas registradas na Bolsa de Valores do Brasil. Tendo como objetivo a preservação da independência do auditor e a diminuição dos erros contábeis e fraudes relacionados ao processo de auditoria das demonstrações contábeis, o rodízio de firmas é um assunto polêmico, pois afeta a relação comercial e profi ssional dos auditores com seus clientes bem como toda a estrutura de mercado das fi rmas de auditoria.

    disponível em:http://www.scielo.br/pdf/rcf/v18n45/v18n45a09.pdf

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  12. Marcia Mensor Lunelli23 de junho de 2011 às 16:22

    Concordo com o rodízio de empresas de auditoria, o auditor deve ter independência com a empresa. Com o passar do tempo, mesmo não querendo, acaba criando vínculos de amizade com as pessoas mais próximas que trabalham na empresa auditada, isso não é bom.
    Por isso a importância do profissional da contabilidade estar bem preparado, com muito conhecimento, facilitando seu trabalho no rodízio de empresas.

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